quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Distância arquitetônica

E como queres que eu atravesse este muro construído com malha de ferro, inabruptíveis barras que por si só erguiriam um arranha-céu novaiorquino?
Com que ferramentas desejas que eu construa uma ponte, sequer uma pinguela com troncos podres com parasitas do lago?
Com que força esperas que eu entorte as grades pontiagudas e laranjas de ferrugem onde pássaros se esfaquearam e mãos pequenas se sujaram?
Ainda crês que devo escorregar os pés para trás, empurrando com ardor instintivo essa carapaça de vidro com que te envolves o corpo inteiro?
E julgas que seria simples atravessar mares de sais lacrimosos e terras de vermelho febril?
Teimas em pensar que subirei trepidante com garra a torre colossal para que de lá possas me enxergar?
Pois mereça essa espera. Mereça esse calvário de escombros sobre sua cabeça, já que levaste anos a sedimentar tal inércia.
Deixa estar aqui, mais uma luz que se apaga na noite urbana.

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